domingo, 9 de outubro de 2011

Até os museus, senhor!


A fúria economicista chega aos museus. Depois de tirar o pão da boca, os empregos, as prendas do Natal, as estradas, as consultas médicas, as propinas, os transportes, o acesso à justiça e a segurança pública, chega agora aos museus a febre avassaladora dos cortes cegos, tarefa a que se presta ufano o putativo secretário Viegas. Segundo ele, vão acabar as entradas grátis nos museus ao domingo, admitindo reservar apenas um dia por mês para visitas gratuitas. Para Viegas, a gratuitidade não é um bom princípio.
O poupado secretário sublinha que a percentagem de entradas pagas nos museus é actualmente, de 36%, e o nível ideal para a sua sustentabilidade é de 80%, e destacou a necessidade de poupar, considerando que o facto de haver menos dinheiro é uma oportunidade para administrar melhor o dinheiro do contribuinte. Afinal, segundo a lógica que hoje campeia, ainda bem que estamos em crise, esta é uma fonte de oportunidades, as de experimentar as virtudes da pobreza, o suplício das tentações e a contenção estóica. Poderemos também deixar de comer para travar o colesterol, deixar de ir ao médico e voltar às mezinhas do curandeiro, andar a pé para conhecer melhor a cidade onde moramos ou viver na rua, aproveitando o clima temperado com que fomos bafejados. E visto bem, menos visitantes nos museus serão menos gastos com limpeza, serviços educativos, restauro, electricidade etc. Já agora, porque não vender os museus? Vendia-se o Museu da Marinha para uma marisqueira, o dos Coches para um restaurante gourmet ou arrendava-se a Torre de Belém para um spa e o Castelo de S.Jorge para casamentos. Melhor ainda: porque não alugar a Pena para reality shows ou a Batalha para cenário de filmes de época? S.Bento e Belém, uma vez despejados os inquilinos (será que o Presidente da República paga renda ao estado por morar no palácio?) poderiam igualmente albergar call centers ou centros de emprego. Meus senhores, acabe-se com o despesismo, tudo tem de dar dinheiro. Como dizem os americanos, no money no funny.

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