terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cultura e Cidadania, crónica dum cadáver adiado

Porque não é e devia ser Sintra uma cidade inteligente? Porque a grande parte das pessoas apenas dá importância e atenção ao que se passa no espaço mediático. José Gil, no seu livro “Portugal hoje, o medo de existir” veio por o dedo na ferida duma realidade que sendo portuguesa, o é ao nível local também muito de Sintra, e quem por devoção se bate pela necessidade dum paradigma cultural  o constata a cada instante, não sem angústia e apreensão.
Na sociedade actual, a reverência, o respeito temeroso e a passividade perante as instituições não foram ainda substituídos por novas formas de expressão da liberdade, e apesar de formalmente democrática, somos ainda uma sociedade de medos. Nessa medida, não há espaço público, porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechar sobre si da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha apenas para a sua manutenção. Não há pois massa crítica nem vontade que haja, e as tentativas para mudar as coisas cedem perante a anemia de quem devia ser a seiva fertilizadora. Diz José Gil: «Se vamos a um espectáculo de um coreógrafo que vem a Portugal, gostamos de dança e descobrimos qualquer coisa de novo, uma parte daquele espectáculo deveria derrubar alguma coisa na nossa vida e mudar a nossa vida, descobrir espaços diferentes, maneiras de falar e de comunicar, etc. mas o que acontece é que tudo isso fica para dentro. Nós gostámos muito, tivemos mesmo em êxtase, mas ao sair do espectáculo voltamos para casa, gostámos, mas não acontece nada... O feed back nos jornais é geralmente uma crítica sempre descritiva porque tem-se medo de inscrever. Não se ousa criticar porque se tem medo (...) A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais.»
Assim, tudo o que acontece é sem consequência. Nada tem efeitos reais, transformadores, inovadores, que tragam intensidade à vida colectiva. As artes são fait-divers, os eventos culturais meras quermesses para exibição de vaidades, a cultura uma caixa de ressonância de modelos estafados de “festinhas” e demonstrações pseudo-intelectuais, copiando  o mau e receoso do bom.
Está tudo por fazer e a oeste, como de costume, nada de novo.
Porém, como diz a canção de Adriano, que nasceu há 70 e partiu há 30 anos (não vamos esquecer!), há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.
 

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