quarta-feira, 30 de maio de 2012

O país da bufaria

Declara-se um processo em segredo de justiça e logo no dia seguinte vem tudo escarrapachado nos tablóides. Criam-se serviços secretos e o nome e actividade dos espiões são mais conhecidos que os dos concorrentes do Big Brother. Adere-se a uma sociedade dita secreta e toda a gente fica a saber quem gosta de aventais. Até o segredo de Fátima deixou de ser segredo. Segredo é só descobrir a forma de por termo a este caos que subverte o Estado de Direito e a que qualquer governo sério e empenhado já teria procurado pôr cobro. Entretanto, as toupeiras nas secretarias judiciais, nas lojas Mozart ou nos serviços ditos secretos continuam em roda livre, urdindo histórias onde amanhã se for útil qualquer cidadão incauto com anticorpos no Estado, no mundo empresarial ou na comunicação social pode ser fritado em lume brando. Tudo para gáudio da populaça, que quer sangue, seja de quem for, desviando as atenções da correcção das desigualdades, da coesão social e dos graves problemas do país e vivendo da poeira que diariamente as televisões e jornais da propriedade de grandes interesses lhes atiram na sua guerra pelo poder que os governos alimentam, se bem que de quando em quando um rato caia na ratoeira que eles próprios montaram. A transparência e a responsabilidade são valores que a fraqueza viral da nossa democracia ainda não elevou a valores fundamentais, por atavismo, inveja e pequenez. Um corte epistemológico e um banho mental são urgentes. Mas atenção, não digam a ninguém: é segredo…

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