domingo, 7 de outubro de 2012

Asterix na Lusitânia




Ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália estava ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma pequena aldeia povoada por irredutíveis gauleses resistia ao invasor. E a vida não era nada fácil para as guarnições dos legionários romanos, nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum. Num recanto da Armórica, um conjunto de aldeões, com a ajuda de uma poção mágica que lhes dava uma força sobre-humana, preparada pelo druida Panoramix, resistia, cinco anos após a rendição de Vercingetórix em Alésia. Naquela tarde de Outono, Astérix e Obélix caçavam tranquilamente javalis no bosque, quando Ideafix, o cão amigo, farejando, descobriu um forasteiro, disfarçado entre os arbustos e ladrando-lhe, nervoso.
-Que é Asterix?- Obélix já antevia um pouco de exercício para abrir o apetite -são romanos, são, são?
Coberto de folhas, um pequeno homem, de bigode escuro e cabelo negro, e ar frágil, pediu que não lhe fizessem mal, vinha de longe só para lhes falar.
-Não vos assusteis, amigos, sou António, um lusitano e venho para vos pedir ajuda!
-Lusitano?-Obélix coçava a cabeça. Isso não é o mesmo que romano, por Toutátis?
-Não, Obélix, não digas disparates, lusitanos são um povo ao sul da Hispânia, comem peixe e divertem-se com um jogo com bola. Os romanos estão sempre a falar num famoso gladiador,Ronaldo, já esteve com César em Roma!
-Hummm… e comem javali?
O lusitano aproveitou para se meter à graça:
-Sim, sim, na nossa província de Bairrada, ocupada por guerreiros suevos, e noutras. É uma especialidade, o nosso javali!
Mais descansado, Asterix levou o pequeno lusitano à aldeia. Na casa do chefe, Abraracourcix levantava a mesa, desde que introduzira a paridade na aldeia tinha tarefas domésticas para desempenhar três vezes por semana. Recebido o frágil visitante, finalmente explicou ao que ia:
-Caros amigos, o meu chefe, o grande Aníbal, vencedor dos alanos, e demais povos do Sul, enfrenta um ataque de piratas provindos da Ilha Negra de Rating, que nos quer submeter, e levar à ruína. Estes agem com bolas de cristal, lançando números mágicos sobre nós, chamam-lhes notações, e o povo está enfraquecido. E como ouvimos falar na vossa poção mágica, como povo amigo pedia o vosso precioso auxílio. O nosso chefe manda dizer que se conseguirem debelar os ataques piratas, vos oferece férias a todos nas aldeias do Sul, com sol e areia, bom vinho e medronho como nunca provaram!
Assurancetourix, o bardo, que entrava na altura, apanhou o fim da conversa, e logo se ofereceu para ir:
-Sul da Lusitânia? Oh, aí poderei apresentar as minhas novas canções, ganhar uma lira de ouro, quem sabe…
Astérix mandou calar o desafinado artista, e coçando a cabeça, advertiu para as dificuldades:
-Sabes, quem decide é o nosso druida Panoramix. Se ele estiver afim…
Felizmente, o druida estava, e ficou eufórico, ali poderia recolher mágicas folhas de oliveira, e experimentar a receita para uma nova poção que aprendera num congresso de druidas em Lutécia, algo chamado azeite, com poderes curativos. Assim sendo, António acompanhado dos gauleses e também de Assurancetourix, embarcaram dias depois com destino à Lusitânia, não sem que Obélix, nas costas da Cantábria, “saudasse” com um afundamento cordial os velhos amigos piratas, acabados de saquear um drakkar de bacalhau.
Olissipo pareceu-lhes simpática. Vendedeiras de peixe apregoavam nas ruas, romanos em grupo apostavam num jogo local chamado Eurosestércios, o prémio seriam férias pagas em Capri. Panoramix, concentrado, pediu para o levarem ao chefe. Em Belém, numa tenda remendada, o chefe luso, Aníbal, terminava umas pataniscas. Obélix, ao vê-lo, ficou horrorizado, nem uma perna de javali, que povo mais esquisito. O chefe ficou contente de os ver, e depois de lhes oferecer uma iguaria local, um pastel de Belém, pediu ajuda para debelar o inimigo, os ataques vinham dum reino chamado Rating, o chefe deles era cruel e vingativo, depois de destruir Esparta e o Peloponeso, avançava para a Lusitânia. César, olimpicamente lavava as mãos, ocupado com a valquíria Ângela, que o invadia pelo Norte. Panoramix, depois de pensar, cogitou um plano:
-Faremos assim, nobre Aníbal. Amanhã pela manhã, todos os homens com menos de trinta anos farão fila na praça central, eu lhes distribuirei a poção, nas duas horas seguintes todos os pombos correios, estafetas, legiões ou coortes trazendo soldados de Rating serão eliminados. Ao meu sinal de AAA numa folha de carvalho, a liberdade do vosso povo será reposta, e podereis voltar aos vossos cozinhados de bacalhau!
-Óptimo!- Aníbal, esfregando as mãos, mandou avisar os chefes locais. Jerónimo e Louçã, chefes das tribos da margem esquerda,  incrédulos, não compareceriam, insistindo antes nos poderes mágicos duma poção de Reguengos, já o jovem patrício Portas prometia trazer uma ânfora, e queria ser primeiro.
Era longa a fila no dia seguinte. Obélix ainda tentou meter-se nela, com um chapéu local a imitar um lutador de toiros, Panoramix fez-lhe má cara, ele já sabia:caíra no caldeirão em pequeno, não lhe adiantaria tomar da poção. Acometidos de força colossal, após a ingestão, os pequenos lusitanos, empolgados, logo se dirigiram a um mercado chamado Bolsa, destruindo um gigante chamado Fitch, enquanto pequenos soldados, do esquadrão PSI20, zarparam atarantados e em pânico para os campos da Penha Longa. Um monstro chamado BPN ainda foi atiçado, mas, gloriosos, e com a sua poção, os lusitanos deram luta. Ao fim do dia, em Roma, César, que lera os fígados das aves, decretava apoio a Aníbal, como agradecimento. Este, rejubilava, e mandava mesmo dobrar o soldo do Natal aos de Olissipo, que havia sido cortado antes para ajudar no esforço militar contra Rating. Era a vitória total, nem Mourinho, bravo triunfador dos exércitos da Ibéria, lograra chegar tão longe.
 Uma vez mais, a poção miraculosa ajudava os do lado do Bem. Nessa noite, os chefes lusitanos ofereceram um festim com danças locais, regadas a néctares de uva dignos dos Deuses, Panoramix, vermelho, pediu mesmo uma pipa para levar para a Gália. A um canto, impedido de brilhar e pendurado duma árvore, amordaçado, Assurancetourix via negada a sua estreia ibérica. Não era o único porém. A seu lado, guardado por guerreiros lusitanos, dois bardos locais, Toy e Roberto Leal, pendiam amordaçados, impedidos igualmente de espalhar a sua arte. Antes as hordas de Rating, explicava Aníbal, aliviado, ao druida Panoramix.

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