quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Cavaco no seu labirinto


Aproveitando a mensagem de Ano Novo, o Presidente da República decidiu dar um ar da sua graça, explicando a sua salomónica (eu diria pusilânime) posição no que refere ao Orçamento para 2013.
Repetindo uma série de lugares comuns que todos conhecemos já, e sem fugir ao tom professoral, ensinando a lição aos pupilos, o reformado do Banco de Portugal perorou sobre a desigualdade de tratamento de alguns portugueses no que a equidade fiscal e de sacrifícios concerne, confessando ter dúvidas sobre a constitucionalidade do diploma, mas, para que o país não pare, ainda que com ilegalidades e inconstitucionalidades que  por juramento se comprometeu a impedir, promulgou. Entre uma lei iníqua ou não haver lei nenhuma, optou pela lei iníqua, por aversão ao vazio. Mestre em finanças, confessou  também ser esse um documento que por certo conduzirá a uma espiral recessiva, coisa que todos já viram e provaram. Ainda assim, por horror ao vazio, promulgou, não por distracção ou negligência, mas por cumplicidade institucional (já passa a ser associação de malfeitores…).
Condicionando a vida política, ao vazio de um diploma ilegal e inconstitucional, somou o horror ainda maior ao vazio que uma crise política constituiria, como se a reposição da legalidade ou a clarificação em eleições fossem um fardo e um karma que, nem que o desemprego chegue a 20% ou a emigração se torne bíblica, se deve a qualquer custo evitar.
Com esta postura toca e foge, o Presidente, qual Fénix renascida nos alvores de 2013, fez a sua prova de vida (talvez para não perder a reforma…) mas de forma cacofónica e inconsequente, falando como qualquer treinador de bancada ou reformado do jardim da Estrela e terminando mesmo por prever que no fim do ano, como por magia e sem saber como, estaremos de novo na rota do crescimento. A assim continuar, estaremos com certeza. Na rota do crescimento do desemprego, do défice, da emigração e da depressão nacional.
Largada a farpa, entretido a comer alguma fatia de bolo-rei, Cavaco refugia-se de novo na caverna de Belém, voltando à carga lá para o 25 de Abril, quando tudo estiver pior e a vida política degradada, simplesmente para dizer que bem avisou. Com presidentes assim...

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