sexta-feira, 12 de abril de 2013

Palácio Valenças: fantasmas e ratazanas

 


O Palácio Valenças, em Sintra, antiga residência do conde de Valenças, genro do rico proprietário António Ferreira dos Anjos, que o mandou construir, tem vindo a ser referido num livro sobre casas assombradas de Portugal, nomeadamente por nele se relatar a história do fantasma de Palmira, uma serviçal do conde, que, apaixonada por ele e por um amor impossível, lá se terá suicidado. Com o passar dos anos, tendo a Câmara de Sintra aí instalado a Biblioteca, e tendo uma Palmira, antiga empregada, habitado numa zona inferior do edifício durante alguns anos ainda após a instalação da biblioteca, quando esta faleceu, funcionários mais brincalhões, a fim de assustarem os colegas mais crédulos, começaram a pregar partidas em torno do seu suposto fantasma, provocando o ranger de tábuas, ruídos silvantes ou manipulando os relógios, dando a impressão de os ponteiros andarem sozinhos. Tais histórias são conhecidas, e antigos funcionários da biblioteca, como o Ferrão, o Rodrigues ou o Félix, delas poderiam dar testemunho, se vivos fossem, tendo o “boca a boca” conduzido à pitoresca história que hoje consta de alguns livros, e que, diga-se de passagem, conferem um perturbante mistério a Sintra, para azar da pobre Palmira,  eternamente condenada a alma penada.
Do Valenças, igualmente se conta a famosa história da ratazana suicida. Antigos funcionários da biblioteca hoje ainda recordam de forma bem humorada a história dumas obras numa casa de banho, onde, dum esgoto aberto, terá certa vez saído uma corpulenta ratazana, que, acto contínuo um dos pedreiros terá morto e, pegando pela cauda, lançado pela janela, com tanto azar que foi a mesma estatelar-se numa mesa do Parque das Merendas, onde, incrédula, uma família inglesa a viu cair, vinda do céu. Considerando o caso imperdoável, o inglês, por sinal inspector da Scotland Yard, apresentou queixa na biblioteca, e exigiu explicações, ao que, com bonomia, os funcionários responderam com as tendências suicidárias do perturbado roedor. Valeu a boa disposição do inglês, que percebendo a história, invocou a qualidade de vegetariano para dispensar tão inusitado presente, partindo para Inglaterra com a imagem de Sintra, terra de palácios e ratazanas. Assim nascem as histórias e lendas. E fico por aqui, que sinto a Palmira a aproximar-se, tossindo.

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