sexta-feira, 24 de maio de 2013

Comércio tradicional em Sintra: small is beautiful!


Num momento em que há que revitalizar a economia no concelho de Sintra, há que repensar soluções que permitam ao comércio tradicional recuperar o papel que já teve como promotor de emprego e dinamizador económico. As lojas têm que desenvolver um conjunto de especificidades, que determinarão não apenas a sua sobrevivência, como também o seu sucesso em termos de futuro. Cada loja tem de dar a resposta específica à necessidade do cliente, isto é, deverá ser cada vez mais especializada por forma a que as pessoas "a priori" saibam onde se dirigir para comprarem os produtos pretendidos, dirigindo-se para públicos seleccionados, em função de localização, estacionamento, oferta e preço. 
Em Sintra, subsistem sobretudo as pastelarias, pela particularidade das queijadas e travesseiros, quanto ao mais, fenece e morre, destinando-se os espaços a bancos ou ao comércio dos chineses. As lojas deveriam virar-se para um conjunto de produtos que não se encontram nas médias ou grandes superfícies. Simpatia e profissionalismo são requisitos cada vez mais necessários para lograr a personalização no atendimento, que pode ser também um valor acrescentado, qualidade de outrora que se tem vindo a perder.
Há que recuperar esses bons modos, atraindo de novo a clientela. Alcançar uma nova imagem para o comércio tradicional, passa também por haver um maior esforço por vender produtos de qualidade e bem apresentados. Uma situação que nem sempre é devidamente conseguida. Quase sempre, se esquecem pormenores indispensáveis, como por exemplo, a decoração, uma montra adequada, exposição correcta, ou uma leveza (frescura) que permita ao cliente uma sensação de bem-estar. 
Vem isto a propósito de um exemplo de boas práticas recentemente surgido em pleno Centro Histórico: a mercearia Pé de Cereja, e o apelo que faz a uma dimensão familiar e de proximidade, e onde muitas das características acima elencadas confluem.
Para uma nova dinâmica comercial, é necessário ter em conta a liberalização de horários e a facilidade de estacionamento. Os horários eram correctos mas num passado recente. Hoje, começam a ter um carácter demasiado ortodoxo, num contexto de prestação de serviço. Há pois que diligenciar uma diversificação de horários, até para se articular com os momentos em que as famílias tem maior disponibilidade, permitindo que o pequeno comércio esteja aberto todos os dias até às 24 horas, sábados e domingos inclusive, se essa for a vontade dos seus promotores, e atentas condições de respeito por ruído e leis laborais, assim como também será mais interessante manter o comércio aberto na hora de almoço, permitindo que muitas pessoas possam fazer compras neste horário. E porque não passar a abrir às 10 horas da manhã - como na maioria dos casos nos grandes centros (haverá clientes às 9 horas, para certos produtos?) - e fechar, por exemplo, às  21  ou 22 horas?
As modificações a fazer passam também pelo reordenamento rodoviário na área envolvente do Centro Histórico, bem como numa adequada política de estacionamento. Para não morrer, os centros nevrálgicos de Sintra- Vila e Estefânea por um lado, e os diversos aglomerados urbanos, por outro- têm de funcionar como espaços de comércio e de serviços. Para tal, é necessário um ordenamento que permita a mobilidade das pessoas, criando zonas de lazer na área mais comercial com programas de rua e de eventos permanentes. O actual estado de degradação causa uma péssima aparência. Criticável é também a sua utilização como parque de estacionamento que é uma aberração insustentável, e que, por exemplo, na Estefânea paulatinamente vem sido a ser recorrente, apesar das proibições.
Certas ruas devem ter apenas uma direcção, permitindo o estacionamento em apenas um dos lados. A experiência das ruas pedonais só funcionará plenamente se houver comércio atractivo e moderno, acessibilidades para os idosos, política de preços por m2 que não afaste os pequenos e médios comerciantes, “comidos” pelos bancos e serviços que encerram cedo, deixando a zona morta depois desse horário. O mesmo com a Vila, fechados os palácios e faltando uma rede de cafés e esplanadas para bolsas médias, onde as pessoas possam sentir-se bem mas a preços acessíveis, e dada a desertificação humana.
Falta um projecto de urbanismo comercial do Centro Histórico e dos demais que envolva de forma clara e célere comerciantes e autoridades. A animação das ruas, com pequenos espectáculos musicais ou outros, concursos de montras, a iluminação e decoração festiva, as semanas temáticas, são alguns dos eventos que se deveriam realizar, como antídoto ao marasmo reinante, onde espaços velhos aguardam que a especulação imobiliária os transforme em bancos ou lojas de compra de ouro ou de telemóveis, como agora é o caso.
Naturalmente, a nossa região sofre de contingências várias, desde o clima de Sintra ao conservadorismo do tecido comercial, idoso e descapitalizado, que obstaculizam a concretização destes ou outros vectores de transformação. Será uma utopia acreditar que o comércio tradicional terá melhores dias? Indiscutivelmente, o futuro passa por uma nova estratégia, que incluirá os pontos aqui referidos, bem como misturar nas mesmas zonas serviços, restauração, equipamentos e lazer, numa harmonia benéfica para todos, o que determinará a sobrevivência de muitos estabelecimentos e a manutenção dos respectivos postos de trabalho e o surgimento de novas e interessantes realidades. Prioridades: benefícios camarários na transmissão de imóveis para comércio tradicional, ou com criação de emprego local, apoios à reabilitação contratualizados não só para as obras mas também para os usos subsequentes; política de eventos e de promoção agressiva, segurança. Se Sintra é uma marca cultural, porque não um branding comercial, que não se esgote em eventos avulsos e de cosmética?. Um Gabinete Municipal que centralize a recuperação comercial, a política de horários, a segurança e mobilidade, e uma política de toldos, esplanadas e ocupação do espaço público pró-activa e dinamizadora, impõe-se. Sem “grupos de trabalho”, comissões ou burocratas, mas com acções concretas e calendarizadas. Small is beautiful!

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