domingo, 7 de julho de 2013

Os sete pecados mortais de Paulo Portas



Paulo Portas, o aprendiz de Maquiavel, das tias e peixeiras, submergiu num dos seus submarinos para apenas quatro dias depois voltar à tona, depois de quase nos levar ao fundo. Nele, por estes dias pudemos detectar cristalinamente os sete pecados mortais, que a um pecador levaria às labaredas do Inferno, mas a um político rasteiro, no auge do seu cinismo  levará quiçá a S.Bento ou Belém. Nele saltam perturbantemente  a luxúria do poder, narcísica forma de existir num partido que pelos vistos é só ele e os seus clones e a lascívia posta no seu exercício; a gula por cargos, prebendas e a captura do Estado pelos seus jotinhas populares e apaniguados salivantes; a avareza em partilhar o poder que lhe caiu nos braços, avaro ele em solidariedade com os pares, os contribuintes e os portugueses; a ira, silenciosa e silenciada em pedidos de demissão armadilhados, revogáveis momentos de pantomina e reserva mental; a soberba, afirmada na convicção de pôr um país pasmado uma semana em seu redor, com golpes de vaidosa mestria do pequeno Metternich do Caldas; a vaidade, o Eu omnipresente e a afirmação do seu partido unipessoal e de irresponsabilidade ilimitada; a preguiça em ouvir os outros, as vozes dissonantes, os críticos humanóides e sem visão, essa massa ululante a que chamam povo, tirando uma ou duas peixeiras e uma ovelha na Ovibeja;

Face ao descrédito a que a política chegou, sobretudo depois da ópera bufa da semana, chegámos ao grau zero da política, afirmada hoje como repositório de tudo o que a natureza humana tem de pior. Os partidos tornaram-se corporações de interesses e sindicatos de lóbis, divorciados da sociedade e agarrados a dogmas, capelas e clientelas, e aqui incluo os da esquerda dita anti-sistema, no fundo também ela em busca de um sistema, diferente, mas sistema.

Toda a nossa cultura e praxis política carece de ser alterada, a começar nas mentalidades, algo difícil, pois até os jovens que se envolvem na política acabam por corporizar e encaixar no discurso dominante e suas representações formais, reproduzindo tiques e mimetismos das gerações anteriores e promovendo a cultura de facção, apesar das novas roupagens e recursos supostamente irreverentes e modernos, mas no fundo em tirocínio para mais do mesmo.

A causa para este estado comatoso deve ser procurada essencialmente na sociedade blindada e supérflua em que nos tornámos, atávica no maniqueísta apontar dos bons e dos maus, reduzindo a política a um fait-divers ou concurso de simpatias. Tudo espectáculo, e contudo, com total ausência de discussão das escolhas ou real debate de ideias, se é que ainda há ideias, mortos que estão os Ideais.

A sociedade portuguesa é avessa e diletante no que a um profundo e cirúrgico debate de ideias efectivamente respeita, deixando o debate político nas mãos de dois ou três grupos de media politicamente engajados e veiculando uma opinião publicada nem sempre traduzindo a verdadeira opinião pública, permeável ao tilintar de sound bites e chamando política às folclóricas arruadas que anunciam a chegada do circo à cidade. Daí que, instalado e larvar, o novo rotativismo vá secando o país que pensa, que tem ideias, que quer inovar, qual eucalipto invasivo neste pinhal à beira-mar plantado, capturado pelos rituais tribais, a emulação dos chefes, a domesticação dos conversos e a frenética venda de realidade virtual. Esse país continua por aprofundar, com ou sem eleições, e só quando o ciclo das claques sem cérebro se esgotar (se alguma vez se esgotar)  e todos, transversalmente, oriundos daquilo  que até há pouco se chamava esquerda e direita reflectirmos seriamente sobre o que somos e queremos, poderemos começar então a tentar mudar este país na sua essência, forças e fraquezas, para lá da mera troca de rostos e protagonistas. Tarefa difícil, porém aquela que vale a pena perseguir, por difícil ou ciclópica que seja.

Como amarga cereja neste bolo podre de vaidades, interesses, minudências e traições, hoje como ontem, Paulo Portas, vitorioso regressado de Elba depois da Batalha dos Três Dias. Quem sabe, talvez  haja um dia o exílio em Santa Helena…

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