segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sintra e o vendaval de pobreza



No seu discurso de tomada de posse, Basílio Horta, o novo presidente da Câmara de Sintra falou do “vendaval de pobreza” que assola o concelho, e no seu primeiro dia logo reuniu com técnicos da área social do município procurando dar corpo ao projecto de Emergência Social de que falou na posse como sendo das primeiras e prioritárias medidas a adoptar.

Efectivamente, e de acordo com um estudo de José Pires Manso, António Matos e Fátima Gonçalves “Os Municípios e a Qualidade de Vida” o concelho de Sintra passou nos últimos anos do 4º para o 129º lugar no ranking dos 308 municípios portugueses.

Tal ranking teve na sua base um grande número de variáveis- condições económicas, sociais e materiais, e em termos metodológicos a investigação utilizou duas técnicas estatísticas multivariadas: a análise factorial, de que resultou a criação do índice concelhio de desenvolvimento económico e social, e a análise de clusters que permitiu ordenar os municípios por índices de desenvolvimento.

Para tal foi construída uma base de dados e utilizado um método da Análise Multivariada conhecido como Análise Factorial. A base de dados foi constituída por 14784 valores que corresponderam a 48 indicadores para os 308 concelhos do país.

Recorrendo posteriormente a os pesos factoriais obtidos na variância total explicada, utilizados como coeficientes de ponderação depois de ajustados de forma a sua soma dar 100%, obteve-se uma média aritmética dos valores das variáveis lactentes selecionadas, o Indicador Concelhio de Desenvolvimento Económico e Social e, finalmente, elaborou-se o ranking dos municípios portugueses.

As variáveis socioeconómicas foram previamente agrupadas em condições materiais, condições sociais e condições económicas, cada uma das quais englobando vários indicadores.

As condições materiais subdividiram-se em 4 items:

-equipamentos de comunicação (2010) que incluíram o número de habitantes por postos de correio, o número de acessos telefónicos por 100 habitantes

- equipamentos de saúde (2010)que incluíram o número de farmácias e de postos farmacêuticos por 1000 habitantes; o número de hospitais; o número de centros de saúde por 1000 habitantes; o número de extensões dos centros de saúde por 1000 habitantes;

-equipamentos culturais (2010) que incluíram o número de museus, jardins zoológicos, jardins botânicos e aquários por 1000 habitantes; o número de galerias de arte e de outros espaços por 1000 habitantes; o número de recintos de espectáculos por 1000 habitantes;

-equipamentos educativos (2009/10) que incluíram o número de estabelecimentos de ensino pré-escolar por 1000 habitantes; o número de estabelecimentos do 1º ciclo por 1000 habitantes; o número de estabelecimentos do 2º ciclo por 1000 habitantes; o número de estabelecimentos do 3º ciclo por 1000 habitantes; o número de estabelecimentos do ensino secundário por 1000 habitantes.

As condições sociais incluíram 6 items:

- ambiente, que incluiu a despesa das câmaras municipais na gestão de resíduos; as despesas das câmaras municipais na proteção da biodiversidade e da paisagem; a despesa das câmaras municipais em outras atividades de proteção do ambiente;

-despesas totais em cultura e desporto (2010, em milhares de €) dos municípios por habitante; as despesas totais em jogos e desportos;

- educação (09/10) que incluiu a taxa de pré-escolarização e a taxa de retenção e desistência no ensino básico;

- população (2010) que incluiu a taxa bruta de natalidade; a taxa bruta de mortalidade; o índice de envelhecimento; o índice de potencialidade; o índice de longevidade;

- saúde (2010) que incluiu o número de consultas médicas nos centros de saúde por habitante; a taxa quinquenal de mortalidade infantil (2005-2009);o número de enfermeiros por 1000 habitantes; o número de médicos por 1000 habitantes;

- segurança (2010) que incluiu a taxa de crimes contra a integridade física; a taxa de furto de veículos motorizados; a taxa de condução de veículos com taxa de álcool igual ou superior a 1,2g/l; a taxa de condução sem habilitação legal; a taxa de crimes contra o património.

Por último, as condições económicas repartiram-se em 5 items:

- dinamismo económico (2009) que incluiu: densidade das empresas; volume de negócios por empresa; diferencial de consumo de energia elétrica na indústria por consumidor;

- mercado de trabalho (2009) que incluiu o número médio de dias de subsídio de desemprego; o número de trabalhadores por conta de outrem nos estabelecimentos;

- mercado de habitação que incluiu o número de fogos licenciados pelas câmaras municipais em construções novas para habitação familiar (2010); o número de contratos de compra e venda de prédios por 1000 habitantes (2010); crédito hipotecário concedido a pessoas singulares por habitante (€/hab) (2009);

- rendimento/consumo que incluiu o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem (2009); o índice de poder de compra per capita (2009); os levantamentos nacionais nas caixas multibanco (€) (2010);

- turismo (2010) que incluiu o número de estabelecimentos hoteleiros; a capacidade de alojamento nos estabelecimentos hoteleiros por 1000 habitantes.

As grandes cidades do país, tais como, Lisboa, Porto, Albufeira, Funchal, Coimbra e Faro tiveram posicionamentos considerados esperados devido, principalmente, às suas condições económicas:

1.Lisboa 128,635 pontos

2.Porto 90,726

3.Albufeira 84,482

4.Funchal 62,224

5.Coimbra 60,844

Sintra quedou-se no 129º lugar com 34,729 pontos, e, atenção, com números de 2010, sendo que a situação se agravou consideravelmente depois de 2011 com a degradação das condições económico-sociais derivadas da intervenção da troika e da aplicação do memorando de entendimento.

A taxa de desemprego oficial é hoje de 13,5%, sendo pensionistas da Segurança Social 23,6% e beneficiários do RMG e do RSI 7,4% (Fonte: Pordata e INE (Censos 2011). Razões mais que preocupantes para que o combate ao desemprego e a busca do crescimento sustentável serem prioritários nestes dias de chumbo. Há que amainar o vendaval.

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