terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Stand up no Coliseu


Um país devastado pela crise, pelo desemprego, a emigração de jovens e até idosos. Um país com sem abrigo licenciados, reformados espoliados das parcas reformas, polícias endividados, professores sem colocação. O interior privado da presença do Estado, sem tribunais, freguesias, centros de saúde ou escolas primárias. E contudo, este fim de semana, no Coliseu, entre La Feria e a Solmar um grupo de pândegos adeptos da realidade virtual desfilou num alucinante e feérico festival de stand up, celebrando aquilo a que dantes se chamavam vitórias morais. Há 800.00 desempregados, mas o mês passado foram menos 200, estrondosa recuperação. 200.000 emigraram. E então? A deslocalização só prova o mérito de Portugal em exportar cérebros para enriquecer os outros a baixos salários. Ah, as exportações, aumentaram. E quando o consumo voltar, não voltam também as importações?. Depois, assistiu-se a nova revisão, não do acordo ortográfico, mas do léxico, onde desemprego significa oportunidade, corte cego se chama reforma, imposição externa se designa memorando e os agiotas parceiros internacionais ou "mercados".
Há quem diga que era um congresso partidário, mais pareceu um  brejeiro espectáculo de stand up. Um, a quem chamavam primeiro ministro, esforçava-se no papel de Calimero e do genro que nenhuma sogra desdenharia. Outro, o Quim Barreiros das Caldas, hoje emigrado em Loures, gabava-se da aliança com perigosos comunistas, antes ávidos devoradores de criancinhas.Chegado de avião cheio de malas com livros, e depois de baralhar a Segunda Circular, um tal professor Marcelo dizia que não vinha para se fazer ao piso, mas quiçá à estrada toda. Pelos corredores, carregadores de pianos de Alfarelos e Celorico abraçavam-se, celebrando a "recuperação", e em tal orgia de convalescença essa coisa esotérica chamada "milagre económico" que por estes dias o homem das cervejas e ministro da Economia anunciou urbi et orbi a um mundo rendido aos bravos tugas que, com menos dinheiro, menos emprego, menos população e menos recursos, lograram sair da crise, chefiados pelo  virtuoso Calimero e a passos largos, passos de coelho, cravejado pelas setas da oposição. Breve transporão o Rubicão, para se renderem à teutónica valquíria, que ao Calimero em passo de coelho recompensará com apetitosa cenoura.
Crise? Qual crise? No Coliseu de Lisboa, antes palco de circos e zarzuelas, foi este fim de semana apresentado um espectáculo de stand up tão original, inovador e bem disposto que breve deixará La Feria mordendo-se de raiva, por atávica falta de imaginação.Não vai mais nada para aquela mesa!

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