terça-feira, 12 de abril de 2016

Utopia Teatro: o fim anunciado





Foram vinte anos a marcar o panorama de Sintra, aqueles que depois duma noite mágica no antigo bar Tópico, hoje Legendary, o Utopia Teatro nos proporcionou, trazendo a generosidade e utopia de um grupo de sonhadores dos palcos, aí mesclando a experiência e esperança nos palcos da vida.

Nuno Vicente, Rui Brás, Ana Bernardino, e outros mais, sentinelas da Luz, guturais vozes da bruma sintrense, depois do quase solitário Alvim ou da interrompida viagem de Maria João Fontaínhas, vieram a par de uma nova geração dar corpo a muitas vozes silenciadas de autores de palco, numa geografia de cultura mas de cultura muito parca à época do seu aparecimento. E há que juntar João Mais, Susana Gaspar, Paulo Campos dos Reis, Maria Barracosa, Ricardo Soares, Filipe Araújo, todos sobre a batuta do druida Vicente, silencioso e penumbroso personagem manobrando a cena, e quase sempre fora de cena.

Vinte anos depois de A Noite da Iguana, naquele Março de 1996, o Utopia decidiu ser tempo de afrontar a tundra e deixar-se finar, para sempre nascendo na lenda do teatro que se fez em Sintra. Dele ouviremos falar, como de José Valentim Lourenço, Gil Matias, João de Mello Alvim, Rui Mário, Pedro Alves ou Paulo Cintrão, cavaleiros dum Apocalipse redentor que no caldeirão cynthiano aqueceram a Palavra e o Verbo. E vão fazê-lo com classe, juntos e junto a nós lançando um livro-testamento, que assinalará um tempo de sonhos, frustrações, anseios e conquistas.

Itinerantes, intermitentes, irreverentes, jamais tiveram uma casa, mas em casa sempre estiveram quando estiveram com os seus, o seu público, o das palmas familiares, dos desejos de muita merda, das ceias no fim das estreias, da satisfação do dever cumprido, razoavelmente sonhando o impossível. Foi nos Aliados, na Casa de Teatro, no Valenças, no 2M ou nos Recreios do Algueirão. E nas ruas e fontes de Sintra, peripatéticos roteiros pela nossa História recheada de “estórias”, espalhando um “miiiaaauuu de poemas “ ou “Um esgar”, anunciando um qualquer “Policial” em modo “Renaissance”, ou vendo Laurel e Hardy subindo ao céu, após uma Despedida de Solteiro. E foram também Henry Edward Catarina sofrendo por Lampedusa na Falésia, desesperando por um Singular Amor perto dum Pequeno Anjo de Rosto Mutilado.

O pano vai cair, a festa, essa, vai começar numa feérica dança dos sonhos em torno do anacoreta Nuno, bardo do Futuro e tabelião da Palavra Dita. Hoje, ontem, e sempre, neste finistérrico promontório, a Utopia renasce e continua!

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