quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A kasbah de Sintra




Quem por estes dias chega a Sintra, para lá da névoa ou do skyline da serra polvilhada de castelos de imediato se depara com a nuvem de vendedores de tours, tuk tuks, bicicletas, carros eléctricos, e tudo o mais, num frenesim mais próprio dum kasbah do que duma cidade europeia património da Humanidade.
Sem colocar em questão que a prestação desse tipo de serviços é necessária, e tem mercado, razão do número crescente de oferta que lota a zona fronteira à estação da CP, alguma ordem há que por na prestação de tais serviços, visando a qualidade, uma prática concorrencial disciplinada e a satisfação do visitante, sobretudo.
Se antes, no tempo do Eça, era a parafernália de burriqueiros disputando levar os veraneantes para o Lawrence ou o Hotel Bragança, hoje são já dezenas as pequenas máquinas coloridas e ruidosas que trespassam a placidez da Vila Velha, por entre hordas de turistas apeados, autocarros de turismo e lojas em busca do excursionista em trânsito que em poucas horas quer ver os palácios, o Cabo da Roca ou a serra. Porque não criar um ponto fixo onde os mesmos, devidamente identificados possam colocar as suas bancas e prestar tal serviço (no estacionamento ao lado da antiga cadeia comarcã, por exemplo). E já agora, para quando a colocação de sanitários públicos no exterior da estação, libertando os cafés da zona dos turistas que apenas entram para se aliviar e sem nada consumir?
Já nem se fala da péssima qualidade das carreiras da Scotturb, motivada pela falta de concorrência, das carreiras 403 e 434, sobretudo, as que mais fazem trajectos turísticos. Ou não saem a horas, esperando encher e transportar os passageiros para uma hora e mais de viagem levados como gado, com máquina fotográfica e selfie stick, ou, não raras vezes, saltam horários identificados no local quando sabem não haver certeza de encher o veículo (ao fim de semana é mais frequente, pois os comboios a partir de Lisboa são menos frequentes).
É sabido que este tipo de serviços é muitas vezes feito de forma informal, não obstante haver bons profissionais e jovens empreendedores entre os que em tempos de crise aproveitam a galinha dos ovos de ouro de Sintra. Mas, por favor, não matem a galinha por excesso de milho. Há que definir pontos referenciáveis para localizar as partidas das tours, verificar as condições laborais e legais de muitos dos que ali se plantam desde manhã cedo, e potenciar o surgimento de mais qualidade. Para que uma visita a Sintra seja a memória dum canto do paraíso e não um caos generalizado entre castelos.
Acresce a endémica falta de estacionamentos, as filas intermináveis que chegado Abril ou Maio de novo afunilarão o Centro Histórico, e a necessidade de, uma vez por todas, olhar para a floresta e não só para algumas árvores. Água mole em pedra dura...



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